15.5.16

Leituras de abril

A garota na teia de aranha, David Lagercrantz
Continuar a história de outro autor é uma tarefa arriscada na literatura. Por isso, não me surpreendi com a grande quantidade de críticas negativas que encontrei sobre A garota na teia de aranha. Visto como uma obra única, sem comparar com os outros três volumes, o livro é bom. Tem uma narrativa fluida, ação e suspense o suficiente para prender a atenção e personagens que fazem sentido dentro da história. 

Mas se for para analisar como uma continuação da obra de Stieg Larsson, tenho que concordar com as críticas: o livro é decepcionante. Senti falta da química entre os personagens principais, muitos diálogos pareciam forçados e tanto a personalidade de Mikael Blomkvist quanto de Lisbeth Salander não parecia mais a mesma. E, sinceramente, qualquer pessoa que tenha lido a trilogia Millenium sabe que Lisbeth Salander é a melhor parte da história. 

Não quero me alongar e me tornar mais uma crítica desfavorável. A garota na teia de aranha é um livro que pode ser bom, excelente, ruim ou mediano, depende apenas do ângulo de análise. 


O quarto de Jacob, Virginia Woolf
Toda vez que leio Virginia, tenho a impressão de que todos os livros dela foram batidos no liquidificador e depois publicados. As histórias são fragmentadas, sempre há personagens esquisitos e no fim sempre fico com a sensação de estar perdida. Quando terminei de ler O quarto de Jacob, não sabia se achei o livro ruim porque não entendi quase nada ou se porque existe alguma possibilidade do livro não ser tão bom quanto os outros. Acho que o mais provável é que eu seja burra mesmo para entender Virginia Woolf.


1.5.16

Eu quero ser um passarinho

Às vezes tenho uma sensação incômoda de não pertencimento em relação à cidade onde nasci. É como se eu transitasse pelos lugares apenas de forma temporária. Olhando os prédios, as lojas, caminhando pelos corredores do shopping, entre as bancas do mercado central, como se eu fosse uma turista. Como se eu fosse alguém que só está aqui por acaso, esperando a hora certa de ir embora e começar a viver de verdade. 

Tenho essa sensação desde muito tempo. Certa vez, ainda adolescente, perguntei para minha mãe se era algum pecado não gostar de onde nasci e cresci. Sei lá. Quanto mais conheço outros cantos, mais eu percebo que as coisas que me interessam estão longe. Não apenas as livrarias grandes e famosas, os museus, os parques bonitos, as opções de cultura, o desenvolvimento. A minha própria identidade. Meu senso de pertencimento.

Tirando minha família, é como se nada me prendesse por aqui. Como se as outras pessoas não me representassem. Como se as ruas e bairros que costumo cruzar fossem um espaço qualquer no meio do mapa. Não tenho nenhuma lembrança saudosa, nenhum desejo de criar raízes, nenhuma paixão pela cidade que me cerca. Somente a certeza de que existe uma vida diferente lá fora.