19.8.15

I’m not a good person

Não lembro como descobri Rectify, mas a cada episódio meu amor aumenta. Lançada em 2013, como uma produção original do canal Sundance, a série acompanha a história de Daniel Holden, um homem que passou dezenove anos no corredor da morte, acusado de estuprar e matar a namorada. Após o surgimento de novas provas, Daniel é posto em liberdade e tem início um conflituoso processo de readaptação à sociedade e à vida familiar.

E é exatamente neste ponto que os problemas começam. A chegada de Daniel desestrutura ainda mais uma família fragilizada. O casamento de Teddy, um dos seus meios-irmãos, começa a entrar em crise. O relacionamento da mãe com o atual marido sofre um golpe. A irmã, que passou a vida tentando livrá-lo da prisão, se sente mais perdida do que nunca. Quem consegue se aproximar de Daniel é a sua cunhada, Tawney. Mesmo assim, ele coloca de cabeça para baixo a vida dela.



Em todos os episódios conseguimos sentir a tensão nos parentes de Daniel. Por mais que todos se esforcem, é como se ele fosse um intruso na família. Além disso, como os fatos aconteceram em uma cidade pequena, os habitantes continuam julgando e condenando. Quase ninguém se sente à vontade com a presença dele e, para muitos, seria melhor que Daniel Holden estivesse morto.

Rectify é uma série densa e delicada. Contemplativa e reflexiva. Para alguns, pode ser lenta demais. Daniel pode soar caricato ou como um retardado em suas descobertas. Mas imagine passar quase vinte anos trancafiado em uma solitária. Tudo para ele é novo: o nascer do sol, as lojas que abriram na cidade, as máquinas de cachorro-quente, os aparelhos celulares, os carros automáticos – e tantas outras coisas que fazem parte do nosso dia a dia e nem prestamos atenção. 

A abertura é simples, bonita e tem uma música que acho apaixonante. A fotografia é magnífica, a trilha sonora agradável, os personagens humanamente complexos e boa parte dos diálogos, inteligente. Outra coisa interessante é a dúvida. Daniel é inocente? É culpado? Acredito que nem mesmo os roteiristas saibam.

Embora esteja em liberdade, a investigação policial continua e Daniel tem todas as características para parecer culpado: é reservado demais e sempre foi considerado esquisito. Muitas vezes ele tem atitudes que nos deixam desconfiados, noutras, porém, ele parece tão inocente quanto uma criança. E essa é a graça. Uma série que brinca com nossa percepção.

Arrisco dizer que ele é inocente. E espero não estar errada. Daniel me cativou demais.

“- I'm not a good person, Tawney.
- I don't believe that.
- I'm telling you the truth”. 
(The Great Destroyer – S02E08)

9.8.15

Mudanças que não servem para nada

Ou melhor: mudanças que servem para destruir

Há seis anos, eu pedi ao meu avô um empréstimo para comprar um notebook. Eu era estagiária, ganhava bem pouco e não tinha a menor condição de pagar à vista – o que garantia um desconto escandaloso no preço. Entreguei o boleto, negociei como eu pagaria de volta e fui para casa. No mesmo dia o meu avô ligou e disse que eu não devia nada. O computador era um presente. Chorei litros de alegria.

Fui muito feliz durante esses anos, apesar dos travamentos aqui e ali, do sistema meio lento de vez em quando, do processador que dava incompatibilidade com um jogo ou outro. Eu e meu querido computador sobrevivemos a viagens, mudanças, quedas, períodos alegres e tristes. Porém, nesses últimos três dias eu tenho chorado de raiva, de tristeza, de revolta.

O Windows 10 apareceu e destruiu tudo.

Se você leu até aqui, entenda que este é um texto confuso e mal escrito porque expressa bem o meu desânimo. Por mais que eu goste do meu computador e não me imagine vivendo sem ele, não sinto a mesma alegria de antes ao ligá-lo. Perdi seis anos de organização, de programas que atendiam minhas necessidades, de um sistema que tinha mais vantagens que defeitos. Em troca de quê? Um sistema “moderno”, eficiente e mais rápido.

Eu amaria acordar e encontrar tudo como estava antes. Como é impossível acontecer, eu apenas amaria acordar e encontrar um sistema sem erros, funcional, organizado e com todos os programas funcionando. Estou mais do que decepcionada. Parece até que arrancaram um pedaço de mim.

3.8.15

Sobre coisas que se tornam agradáveis

Minha mãe sempre gostou de trabalhos manuais, pinturas e coisas do tipo. Lembro que teve a fase das flores de meia de seda, dos bordados, dos pirulitos de chocolate e, recentemente, as customizações com filtro de café. Meses atrás ela me disse que queria entrar num curso de pintura. Foi aí que aproveitei a moda para unir o útil ao agradável: dei a ela um desses livros de colorir. Preciso dizer que mamãe amou – e saiu por aí pesquisando técnicas? 

Enquanto só existiam jardins e florestas, meu interesse por livros desse tipo era quase nulo. Eu sou uma pessoa sem muita força nos braços, com alguns episódios de dor no pulso e com pouca habilidade para o artesanato. Mas eis que, pesquisando um novo livro para dar a minha mãe, encontrei um bonitinho com desenhos que falavam sobre Paris. 

Não que eu ame a França e sonhe em morar lá – apesar de ter ouvido algumas vezes que tenho um jeito meio francês –, mas as figuras não eram tão detalhistas quanto um jardim nem tão cansativas. O resultado? Me rendi aos lápis de cor.

Sinceramente, não considero como um tipo de terapia, porém, quando preciso descansar a mente e me desligar da tecnologia, pego o livro e dou uma colorida. Sem me preocupar se o lápis é aquarelável ou comum, se as cores combinam entre si ou com técnicas de pintura. Simplesmente vou pintando. 

Como a experiência continua sendo boa, acho até que vou querer outro livro quando terminar esse. Quem sabe uma nova cidade ou, com tantas invenções no mercado, algo do tipo “Bolos para Colorir”.