30.10.15

Leituras de outubro

Um pressentimento funesto, Agatha Christie
Como disse outras vezes, Agatha é uma escritora que me empolga. Se eu pudesse teria todos os seus livros, mas, quando Hercule Poirot não aparece, fico com a sensação de que o "caso da vez" não será tão bom. E foi exatamente o que aconteceu: em Um pressentimento funesto conheci pela primeira vez o casal Tommy e Tuppence, e pensei que estava lendo uma obra feita por outra pessoa. A investigação, o suspense, as teorias estavam lá, mas de uma maneira bem mediana. Senti uma confusão de personagens e informações mal aproveitadas. A leitura foi sofrida, a conclusão do caso sem graça e só continuei porque, enfim, é Agatha Christie e quero ler o máximo de livros que puder. Mesmo que a qualidade não atinja as expectativas.

12.10.15

Crianças, livros e uma dose de ética

No último episódio de Better Call Saul, Jimmy para na saída do estacionamento e pergunta a Mike por que devolveu o dinheiro roubado da família Kettleman para a promotoria. Dentro da história, Jimmy McGill fez isso porque se importava com a opinião do irmão mais velho. Ele queria ser um bom advogado e orgulhar Chuck fazendo a coisa certa. (Nosso futuro Saul Goodman só não tinha descoberto ainda que o querido irmãozinho tinha lhe traído e que não dava a mínima para os seus esforços).

Daí que dia desses voltei a pensar nessa cena. Quando eu estava na quarta série teve uma feira de livros na escola. Os alunos escolhiam, levavam para casa e os pais mandavam o dinheiro no outro dia. Nem lembro quem organizou essa feira, até porque pegou a gente de surpresa, mas lembro que consegui escolher dois livros no meio da bagunça: O Apicultor e No coração do coração do país e Outras Histórias.

O primeiro parecia ser chato, mas era o que tinha sobrado. O outro eu folheei, li uns trechos e gostei. Voltei para a sala, guardei minhas aquisições na mochila, todo mundo voltou a prestar atenção na aula e lá estava eu satisfeita porque ia ganhar dois livros. Até que entrou uma coordenadora e mandou a gente devolver tudo porque alguns livros tinham conteúdo impróprio. Por alguns segundos pensei em entregar o livro ruim e esconder o bom. Entrego ou não entrego? E agora? Eles nem iam saber mesmo. 

Mas aí, claro, o meu lado ético sempre foi aflorado. Pensei que seria feio levar o livro escondido e devolvi os dois. Putz! Lá se foi. Depois disso, passei anos tentando lembrar o nome do livro que eu tinha gostado. Existia No coração do país, só que a capa era completamente diferente e a história não parecia com o pouquinho que eu tinha lido. Pesquisei várias vezes e nada. Apenas recentemente encontrei algumas referências, inclusive o nome certo do livro, e descobri que podia comprar num sebo on-line. 

Um livro não é o mesmo que desviar dinheiro, como aconteceu na série. Mas de tempos em tempos eu me perguntava se foi certo devolver. Eu podia ter levado para casa, ter lido e ter me privado de tanto trabalho para conseguir encontrar um mísero exemplar depois. Eu poderia, sim. Porém, hoje eu sei que escolhi certo. Aos oito, nove anos eu já sabia bem a diferença entre certo e errado, e por mais que doesse, escolhi fazer o certo. Sei que no Direito existe razoabilidade e proporcionalidade, mas quando se quer ser uma pessoa correta e ética, tanto faz “pegar” um livro, uma bala ou um milhão de dólares. Não existe delito grande ou pequeno. Para a consciência, é errado do mesmo jeito. Felizmente, a minha continua limpa.