23.2.16

Nunca subestime o poder de um mosquito

Foi só o carnaval terminar para os jornais esquecerem os bloquinhos de rua, as escolas de samba, a euforia das pessoas, o xixi na rua, a música da metralhadora. De repente voltaram a lembrar da zika, da dengue, do aedes aegypti, dos postos de saúde lotados, da população doente, dos mutirões do exército, dos bebês com microcefalia. E eu que não gosto de carnaval nem de mosquito, acordei na quarta-feira de cinzas mais detonada que tênis de folião.

Pela lista de sintomas eu posso dizer que estava com chikungunya, mas os exames podem dizer que foi uma dengue tresloucada. Ninguém tem certeza de mais nada. Só sei que nunca tive uma doença para sentir tanta fraqueza e tanta dor ao mesmo tempo. Parecia que eu tinha envelhecido uns cem anos e perdido o controle de tudo. Dor para levantar, para tomar banho, para andar, para sentar no vaso, para prender o cabelo, para mastigar. Onde houvesse uma articulação lá estava a dor.

Dois dias de febre, muito sono e força nenhuma para sair da cama. Acho que a cada cinco minutos minhas pálpebras pesavam e eu voltava a dormir. Enjoo, vontade nenhuma de comer, litros de água e suco de cenoura para beber, centenas de manchinhas vermelhas no corpo. Quando comecei a me sentir melhor no terceiro dia, tentei fazer alguma coisa dentro de casa, mas quanto mais eu me movimentava, mais as articulações doíam.

Lá pelo quinto dia de prostração comecei a me sentir deprimida. Eu continuava cheia de dor, horrorosa com a explosão de manchas no meu corpo, chateada com a minha situação de “inválida”. No sexto dia estava sem paciência, irritada, detestando todos os homens na face da terra. Sabe como é, minha mãe estava doente também e não havia ninguém para nos ajudar. Ficamos as duas cheias de dores, com comida para fazer, casa para limpar e roupa para lavar. O que me lembrou algo que detestei mais do que tudo dentro de um casamento: o conceito que os homens têm de que a manutenção da casa é responsabilidade só da mulher.

Enfim, voltando ao assunto. 

No sétimo dia ainda estava irritada, mas sentia tanta coceira por causa das manchas, que a irritação virou mau humor e a melhor solução que encontrei foi assistir ao filme do Leonardo DiCaprio. É um bom filme, apesar de certos exageros, de certos deslizes, de ser cansativo e tal, mas no final terminei com a sensação de ter feito algo útil.

Já se passaram quase duas semanas desde que adoeci. Mesmo agora, enquanto escrevo este texto, não estou completamente boa. Ainda estou sem muita vontade de comer, meus tornozelos incomodam quando desço escadas, me canso com facilidade e continuo tendo algumas dores, principalmente nas mãos e no pescoço. Já me disseram que caso tenha sido chikungunya, talvez eu tenha umas recaídas e fique com algum problema de articulação por um tempo.

E depois me vem a propaganda do governo dizer que o mosquito não pode ser mais forte.