19.9.16

Guarde os elogios na gaveta

Certa vez eu encontrei um texto onde a autora dizia no título que era contra os homens ajudarem em casa. Fiquei desconcertada. Como assim?! Pensei que aquela mulher que escrevia era uma maluca. Se a maioria dos homens nem faz nada em casa, por que dispensar a ajuda? Somente depois de ler o texto inteiro é que percebi que ela estava mais do que certa.

Não existe ajuda em algo que é obrigação fazer. A partir do momento em que um homem e uma mulher se casam ou decidem morar juntos, a casa se torna responsabilidade dos dois. Em nenhum lugar está escrito que lavar, passar, limpar e cozinhar são deveres exclusivos das mulheres. Se duas pessoas dividem o mesmo teto, as tarefas também são divididas.

Seu marido ajuda a lavar os pratos depois do jantar? Seu companheiro troca a fralda do bebê quando você pede? Seu namorado ajudou você na faxina? Não saia por aí dizendo que ele é um homem bonzinho só porque lhe ajuda. Não o elogie pelo simples fato de ele pegar numa vassoura ou numa esponja de prato porque você pediu para ajudar. É obrigação dele dividir as tarefas domésticas com você. É obrigação dele contribuir na manutenção da casa e ser participativo na criação dos filhos.

O fato de varrer uma casa, limpar um banheiro, lavar louça, tirar o lixo ou preparar uma mamadeira não o torna menos macho. Apenas o torna um homem que nos dá orgulho de dizer “esse é o homem que eu sempre quis”.

Em toda a minha vida, eu nunca ouvi um elogio de um homem porque lavei prato, limpei banheiro, passei roupa ou fiz qualquer outra tarefa doméstica. Você também não? Então guarde seus elogios para as ocasiões certas.

Elogie porque ele é responsável, porque ele consegue estacionar o carro até nas vagas mais apertadas, porque ele é um homem romântico e atencioso, porque ele trata bem os pais, porque o sexo foi mágico. Elogie o resultado dos esforços dele: elogie as panelas brilhando, elogie o trabalho que ele fez no quintal, elogie o quanto ele sabe deixar a casa limpa, elogie a paciência dele com as crianças, elogie a organização dele na cozinha. 

Minha mãe sempre dizia que meu irmão limpava a cozinha melhor que ela. Tanto que hoje ele está casado, divide as tarefas e continua limpando muito bem a cozinha lá na casa dele. Portanto, elogie sempre que possível, só não aceite ser a empregada doméstica do seu homem. Ainda mais sem carteira assinada, sem salário, sem férias.

4.9.16

Livros, coisas que fazemos e gratidão

Quando eu recebi minha primeira solicitação de troca de livros, me esforcei para enviar rapidamente o que a pessoa tinha pedido. Também fiz questão de escrever um recado para avisar que havia postado e informei o código de rastreio. Enquanto isso, dias se passaram, a pessoa continuou atualizando o perfil dela, não avisou que já tinha recebido a encomenda e tampouco me deu satisfações sobre o livro que iria me enviar em troca. 

Um mês se passou desde que a pessoa entrou em contato dizendo que precisava muito do livro que eu tinha disponível e até hoje não recebi código, nem desculpas esfarrapadas, nem nada. Gastei dinheiro para enviar o livro, perdi tempo de estudo indo na agência e a pessoa não deixa uma mísera mensagem. Nem de agradecimento.

Desta vez foi só uma troca de livros. Mas quantas vezes fazemos coisas pelo outro e não recebemos nada em troca? Quantas vezes fazemos trabalho extra para o chefe, perdemos noite fazendo sozinhos o trabalho de faculdade que deveria ser em dupla, vamos a lugares que não gostamos só para agradar, limpamos a bagunça que não fizemos, desistimos de algo para satisfazer ao outro, doamos nosso tempo, resolvemos problemas, fazemos sacrifícios e não recebemos nenhuma palavra de agradecimento?

É por isso que tenho me policiado a dizer “obrigada” mais vezes. Mesmo por gestos simples, como de manhã, quando minha mãe vai na padaria no meu lugar e traz o pão que eu gosto. Ou quando meu avô vai no supermercado e traz uma barra de chocolate para mim. 

Talvez a pessoa para quem enviei o livro seja um pouco distraída, ou não tenha o costume de agradecer ou esteja com a cabeça tão cheia de problemas que acabou esquecendo. Mas se há algo que essa vida tem me ensinado, é que devemos aprender a ser mais gratos. Não importa se é por algo bobo como um lugar vazio no ônibus, por algo gentil como um elogio, por algo gostoso como uma xícara de café fresquinho, por algo tão bom quanto ganhar de presente aquilo que desejamos ou por algo tão incrível como acordar respirando todos os dias.