20.8.08

A cor da não-cor

O sol cinza clareava debilmente a sala. As paredes vermelhas, com tantos quadros e fotografias desbotadas, as cadeiras roxas e os tapetes encardidos, os discos espalhados e os livros amarelados e carcomidos pelas traças. O vestido rosa remendado, as flores laranja quase murchas, os pequenos olhos azuis perdidos no vazio e as mãos pálidas sobre o preto-e-branco das teclas do piano.

Silêncio.

A menina olhou para a janela. O sol já não era mais cinza. Os pássaros começavam a cantar, o verde resplandecia no jardim e as borboletas dançavam.

Parou de tocar.

Tic-tac. Tic-tac.

Seis horas.

Levantou do banquinho, ajeitou o vestido e esqueceu seus sonhos.

Voltou para a sua servidão sem cor.

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