7.8.09

Dos dias ruins e amores (quase) perfeitos

A pobre atriz não lembrava de seu texto e fazia a alegria das vaias e piadas. Do lado direito do teatro, quase embaixo da caixa de som, ali bem no canto, o encontro sentado. Pensativo e transtornado pelo constrangimento público da jovem sobre o palco.

Eu não podia fazer nada por ela, além de sentir pena. Mas ele era mais forte e corajoso do que eu, e fez o que ninguém esperava. Subiu ao palco, abraçou a garota, e soltou suas falas não ensaiadas.

- Putos! Sumam daqui!

Ficamos os três, sozinhos no teatro, logo depois que os sons das risadas e reclamações se foram. Ele continuou com a jovem. Secava-lhe as lágrimas e consolava sua alma envergonhada.

- Não posso mais. Não sou boa nisso.
- Claro que você pode. Isso aqui foi só uma peça... Hoje você foi mal, amanhã será melhor. Nunca percebeu que até as melhores pessoas já tiveram algum dia ruim?

Enquanto os dois conversavam, fui me dirigindo para a saída do teatro. Observei mais uma vez a cena imprevista. Aquele homem tinha muito do que eu precisava. Era forte, decidido, corajoso. Era bonito e tinha uma voz que entrava por meus ouvidos e palpitava o coração. Mas eu não podia dar conta de alguém tão completo assim. A graça do amor era se entregar à busca do incerto. De procurar algo para completar, mesmo que nunca se consiga.

Fui embora.

4 comentários:

  1. Lindo! Estou sem palavras pra comentar. Adoro quando essas coisas acontecem dentro de mim.
    beijos

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  2. "A graça do amor era se entregar à busca do incerto. De procurar algo para completar, mesmo que nunca se consiga", me identifiquei demais com essa frase, lembra-me uma estrofe de um poema que gosto muito:

    LABIRINTO
    Acho bonito falar alemão.
    Por isso, talvez, eu não queira aprender a falar alemão.
    Seu eu falasse alemão
    as pessoas iriam dizer, simplesmente, “ele fala alemão”
    e aí perderia toda a graça.

    A graça está em achar bonito falar alemão... (continua)

    Bjooooooo

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  3. Foi inveja o que você sentiu.
    No fundo quis estar naquele palco e receber aquele abraço e aquelas palavras de consolo. Eu também teria desejado o mesmo.

    Que lindo isso, guria.
    "A graça do amor era se entregar à busca do incerto. De procurar algo para completar, mesmo que nunca se consiga."

    Se não fosse isso, ele não teria graça alguma. Que verdade mais verdade! rs

    ;*

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  4. o amor é uma coisa mesmo... a gente semrpe procura e quando encontra meio que falta coragem pra encarar ele... o amor é uma medusa, eu sei lá.

    grande texto, tão leve.

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Oi, tudo bem? :)