31.3.10

Querida J.,

Sei que muito do que eu queria falar, ficou na última carta que você recebeu. Mas ainda há algumas coisas que preciso lhe dizer, por isso esta nova carta.

Minha querida J., certamente eu não queria estar dizendo isso só agora, e sim no exato dia em que nos vimos pela última vez, naquela quarta-feira ensolarada. Infelizmente tive uma semana infernal no meu trabalho e por isso não pude escrever antes.

Você me disse que ficou preocupada após ler minha carta. Não sabia que você tinha se preocupado tanto. Porém, se você ficou assim, sinto dizer que não tem nada que possa ser feito. Como eu disse, apenas siga com a sua felicidade. Eu me conserto...

Me consertar é que não vai ser fácil. Ninguém sabe o que me dizer, e eu não tenho nenhum guia nem manual pra isso. Até conhecer você, não tinha amado alguém na minha vida, apenas passado por algo que achava que fosse amor. E agora eu me vejo numa situação péssima: sinto uma parte de mim destruída e carrego dentro de mim um sentimento que eu queria poder usar (e usar com você), mas que não posso fazer nada com ele a não ser jogar no lixo. E o pior é que eu ainda não sei como fazer isso. Talvez pior que isso seja pensar que eu fui somente um mero parênteses na sua vida.

Você pode ter certeza que foi melhor que todas as outras que vieram antes. E tem mais. Pode ficar feliz e se sentir orgulhosa: eu tenho a plena certeza para te falar que nenhuma mulher que vier daqui pra frente, vai conseguir o que você conseguiu. Nenhuma outra vai conseguir me envolver numa atmosfera tão perfeita como a que você me envolveu, e nem vai conseguir me fazer criar o mesmo sentimento que tenho por você. Venha quem vier de agora em diante, só me fará ter um sentimento menor e mais fraco que o que eu tenho por você. Sim, só uma fração do que você me proporcionou. Vou ter que me acostumar a seguir com um sentimento incompleto para o resto da vida, mesmo já tendo sentido o que eu poderia ter de mais completo, que foi com você. Enfim, de alguma forma vou ter que me conformar.

E impossível será eu não me lembrar de você ou do que tive contigo. Quando eu escutar nossas músicas, toda vez que passar na frente daquele cinema onde nos beijamos pela primeira vez, sempre que passar em frente à sua casa ou for ao supermercado fazer compras... Até mesmo quando falar com a minha irmã, que foi quem nos apresentou. De alguma forma sinto você em mim, e não tenho como tirar, só se eu tomasse uma pancada na cabeça e perdesse a minha memória.

Enfim, não sei se tudo que ainda queria poder te falar era isso, mas como eu disse, siga com sua felicidade. Creio que o homem – seja lá quem ele for – que está com você agora deve estar muito feliz, de certeza tanto ou mais que eu quando estive com você.

E não espere me ver tão feliz quando me ver novamente, porque acredite ou não, eu sou de sorrir muito pouco. E com você eu estava mudando isso e adorando essa (e outras mudanças). Mudanças que eu não estava passando forçosamente, e sim espontaneamente, pelo simples fato de estar ao seu lado. Pode-se dizer que eu tava me sentindo e me me tornando alguém melhor. Mais feliz e mais disposto para tudo na vida, e a enxergando de outros ângulos que nunca tinha visto antes. Agora não tem porque algo continuar mudando em mim. Não sei te dizer bem, mas para cada dia que passa eu me sinto como se estivesse sem alma.

No mais vou tentando me consertar – se é que há algum conserto pra mim – e vivendo dias mortos e recobertos pelo mesmo tom de cinza. Espero não ter te magoado.


Sempre seu,


S.


* Texto original gentilmente cedido por um bom amigo.

2 comentários:

  1. Gostei muito desse texto. Mesmo.
    Acho que todo mundo que já amou muito alguém e, por algum motivo, perdeu essa pessoa, se identifica.
    Muito bem escrito.
    Beijos

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  2. queria uma carta dessa escrita pra mim. lindo lindo.

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Oi, tudo bem? :)