Please, don't tell

Às vezes, minha memória resolve trabalhar e libera pedaços de passado. Estava aqui deitada na cama e olhando para as estrelas no teto, quando lembrei de uma vez em que fui na casa de um cara pegar um livro ou sei lá o quê, e me aparece o irmão dele.

Eu nunca o tinha visto, mas com certeza ele sabia um monte de coisas sobre mim, pois falou meu nome ao me cumprimentar. Fiquei perturbada com o fato e mais ainda com a frase dele, quando questionei como ele sabia quem eu era. “Meu irmão me conta tudo”. Aham, Cláudia. Ironicamente aquela foi a última vez que os dois me viram.

Sou extremamente reservada com algumas coisas da minha vida e amante da privacidade. Não gosto de me envolver com gente dentro do meu círculo de amigos e muito menos de sair por aí contando o que faço ou deixo de fazer.

Quando tenho algum encontro falido, até solto umas bobagens, como o cara que quase destruiu o meu pescoço ou o idiota que me largou no meio da rua tarde da noite. Quando o cara é sacana e eu descubro que o tamanho do seu orgulho nem é tanto assim, conto para uma amiga ou outra. Mas quando acontece o contrário, e minha noite se transforma num bom encontro, escondo tudo entre caras de mau humor e resmungos. Disfarce, sabe?

Pensando nisso, lembrei de um amigo. Infelizmente ele é desse tipo de homem que conta tudo o que fez, e se vacilar você fica sabendo até a cor da calcinha da guria. Nunca o chamei de idiota e nem falei nada, mas cada vez que ele saía, lá vinha uma enxurrada de coisas para contar.

No dia em que conheci a atual namorada dele, senti uma ponta de vergonha por dentro. Eu, e talvez toda a universidade, sabíamos de uma porção de coisas: de um amasso mais quente no carro a uma conversa hard porn via msn.

Não acho a menor graça nisso. Homem que conta detalhe não merece o mínimo respeito. E não digam que isso é sinônimo de imaturidade ou algo assim. Para mim, isso é falta de bom-senso e excesso de canalhice.