Minha convidada

Na primeira vez em que vi, achei o título interessante. A Convidada do Casamento. Depois, me apaixonei pela simplicidade da capa. Uma jarra azul descascando e uma parede cinzenta ao fundo. Curiosa que estava, comprei numa promoção e mal li o resumo da história.

Aliás, o livro não possui exatamente uma história. As 231 páginas retratam a visão de uma menina de doze anos, acerca da vida e do casamento do irmão, em diálogos que duram capítulos inteiros. E o espaço de tempo, pelo que entendi, gira em torno de poucos dias. Mais ou menos entre uma visita do irmão com a noiva durante a semana e o casamento no final de semana. Além disso, os diálogos e cenas acontecem praticamente no mesmo lugar: a cozinha feia e cheia de desenhos da casa de F. Jasmine. Ou Frankie Addams, como preferir.

Outra coisa: na minha ignorância eu jurava que Carson McCullers, a autora do livro, era um homem. 

- Ouça – disse F. Jasmine. – O que estou tentando dizer é o seguinte. Não lhe parece estranho que eu seja eu e você seja você? Sou F. Jasmine Addams. E você é Berenice Sadie Brown. E nós podemos olhar uma para a outra, tocar uma na outra e ficarmos juntas, anos a fio, na mesma cozinha. Mas eu sou sempre eu e você é você. Não posso nunca ser outra coisa, a não ser eu mesma, e você não pode ser outra coisa, a não ser você mesma. Já pensou nisso? E não acha estranho? 

Berenice balançava-se levemente na cadeira. Não era de balanço, mas ela reclinava-se no espaldar reto, depois deixava as pernas dianteiras da cadeira baterem no chão, com pequenas pancadas, enquanto sua mão escura e rígida segurava a beirada da mesa para manter o equilíbrio. Parou de se balançar quando F. Jasmine falou. E finalmente disse:

 
- Já pensei nisso algumas vezes.

(p. 164-165)