1.5.16

Eu quero ser um passarinho

Às vezes tenho uma sensação incômoda de não pertencimento em relação à cidade onde nasci. É como se eu transitasse pelos lugares apenas de forma temporária. Olhando os prédios, as lojas, caminhando pelos corredores do shopping, entre as bancas do mercado central, como se eu fosse uma turista. Como se eu fosse alguém que só está aqui por acaso, esperando a hora certa de ir embora e começar a viver de verdade. 

Tenho essa sensação desde muito tempo. Certa vez, ainda adolescente, perguntei para minha mãe se era algum pecado não gostar de onde nasci e cresci. Sei lá. Quanto mais conheço outros cantos, mais eu percebo que as coisas que me interessam estão longe. Não apenas as livrarias grandes e famosas, os museus, os parques bonitos, as opções de cultura, o desenvolvimento. A minha própria identidade. Meu senso de pertencimento.

Tirando minha família, é como se nada me prendesse por aqui. Como se as outras pessoas não me representassem. Como se as ruas e bairros que costumo cruzar fossem um espaço qualquer no meio do mapa. Não tenho nenhuma lembrança saudosa, nenhum desejo de criar raízes, nenhuma paixão pela cidade que me cerca. Somente a certeza de que existe uma vida diferente lá fora. 

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