Cinco e pouquinha da manhã, acordo sobressaltada com o meu pai gritando-reclamando-xingando, sabe-se lá o quê, em seu sotaque de nordestino criado na dureza. Sou retirada à força de mais uma noite ruim, com os olhos pequenos e inchados, cansados de afogar mágoas, como tem sido há certo tempo. Não entendo o que ele está falando, mas o escuto subir as escadas, entrar no quarto do meu irmão do meio, e surrá-lo. Por um motivo que desconheço, porém de maneira humilhante.
Tranco ainda mais minha porta, não quero ouvir, não quero me meter em mais nada. Há tempos essa casa não me cabe mais, nem aos meus conceitos. São cinco e pouca. Meu irmão continua calado, enquanto o outro continua a desferir sua raiva em sonoros estalos de cinto. Fecho os olhos, resmungo um “Jesus Cristo, essa hora da manhã!”. Meu pai vai embora, o símbolo do amor aparece. Também não quero ouvir o que minha mãe está dizendo. Já tenho a minha própria vida dizendo, em letras graúdas, um sonoro BEM-FEITO.
Acordada, sem fé no destino e com um expediente inteiro pela frente, só me resta fingir que nada ouvi e me entregar ao gelo do chuveiro. Tenho um coração dolorido e egoísta demais para me preocupar com terceiros.
Às vezes temos tantos problemas e angústias, que escolhemos ser egoístas, não querendo saber dos problemas e angústias dos outros. Eu te entendo.
ResponderExcluirTodos nós precisamos ser egoístas as vezes. Muitas vezes os problemas alheios simplesmente não são do nosso interesse, é até bem natural.
ResponderExcluirQual foi o motivo do espancamento matinal afinal de contas?
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