Nesses dois meses de jornal, senti uma porção de coisas que iam da alegria ao medo. Alegria por concluir uma matéria, por conseguir dar um passo novo, por ver meu nome no expediente, por cada pessoa que deixa minhas manhãs divertidas. E medo por ser pega fotografando algo proibido, por andar em lugares que eu nunca tinha ido, por algum diretor me chamar e dizer “você está dispensada”.
Mas nesses dois meses aprendi que as pessoas podem morar em lugares praticamente inabitáveis. E fiquei tão perplexa com isso, que nem tinha lágrimas para descer enquanto andava naquela situação.
Vi crianças que brincavam descalças na lama e nadavam nas poças, como se aquilo fosse a coisa mais divertida do mundo. E crianças com a barriga grande, as unhas sujas e os cabelos desgrenhados. Todas com um ar de tristeza e parecendo mais velhas do que realmente são.
Conheci pessoas desabrigadas, pessoas desalojadas por ações da prefeitura e que invadiram escolas em busca de um lugar para ficar. Vi de perto o que é ter a casa alagada, destruída e os móveis partidos pela violência das chuvas – misturadas ao descaso do poder público.
Levei respingos de uma fossa estourada, e sobre a qual estava fazendo uma matéria, tomei banho de chuva numa praia, enfiei o pé na lama. Entrei na casa de um homem assassinado. Conheci gente sem ter o que comer e bebendo água da chuva.
Ganhei um livro autografado, descobri uma lição de vida durante uma entrevista e vi pessoas reclamando por suas casas, dizendo que não vão sair de onde nasceram. E todas eram casas de madeira prensada, papelão e lona.
Repassei o número do meu celular dezenas de vezes, perdi algumas canetas e gastei quatro bloquinhos. Fotografei uma porção de coisas e conheci tudo o que meu lado turista e burguês não me permitia ver: gente lutando para (sobre)viver.
Nesses dois meses aprendi que meu trabalho é como um romance. E também aprendi que, como todas as relações, um dia nós podemos terminar. Como uma boa apaixonada, apenas desejo que isso não seja tão cedo.
Nossa, deve ser difícil olhar de perto essa realidade que a gente teima em fingir que não existe. :( +1
ResponderExcluirTem que ter um psicológico muito bom pra fazer o que você faz. Acho que é assim que um bom jornalista se constroe: sentindo a matéria e escrevendo a realidade.
Beijos.
Esse é o grande barato do jornalismo. Ir atrás do que queremos saber, correr para anunciar. Só quem tem bloquinho e caneta na mão (e uma pauta na cabeça) sabe como é isso.
ResponderExcluirE o mais legal é trazer a experiência com a gente. Isso nenhum salário paga. Ficamos mais abertos, atentos e humanos. Jornalismo é aprendizado constante no cotidiano, na correria e no meio de todas as ligações.
É levar esperança, mesmo que não possamos fazer muita coisa... ):
Não preciso nem dizer que amei seu texto, né? Mas ainda tô longe das redações. Chegando no meio do curso agora.
Beijos!
Uma coisa triste tudo isso, mas ao mesmo tempo, que experiência! Eu pensei mt em fazer jornalismo, mas por esses e outras, acho que não seria uma boa. Mas é uma área que eu amo, ainda penso em fazer depois que concluir publicidade..
ResponderExcluirNão sei, ha algumas experiências , como a sua, que valem mt a ´pena viver, ao mesmo tempo, são fortes demais.