26.3.20

Conjugações futuras

Ficar em casa nunca foi um problema para mim. Sempre gostei de me refugiar no quarto e me sentir segura. Aliás, todo mundo precisa de um lugar para se sentir seguro, esquecer um pouco dos problemas lá fora e saber que, pelo menos dentro daquele espaço, a vida pode ser mais leve.

Definitivamente, ficar em casa nunca foi um problema para mim. Sempre foi um hábito comum, praticamente meu estilo de vida há anos. Em casa posso aproveitar minha própria companhia, fazer coisas que me divertem, cuidar de mim, chorar no travesseiro quando preciso. O difícil é conviver outra vez com a sensação de estar esperando por um “depois”.

Tempos atrás, quando eu estava com depressão, ficava esperando por um depois que algum dia chegaria e me permitiria viver outra vez. Eu investia todos os meus planos nesse depois: arrumar o cabelo, ir aos lugares que eu gostava, fazer novos amigos, acordar me sentindo feliz. Agora, estou novamente esperando por um depois. 

Eu e bilhões de pessoas.

Não sei se elas, essas outras pessoas obrigadas a ficar em casa por causa da pandemia, estão conseguindo se manter firmes, se conseguem se manter otimistas apesar de tudo. Essa semana eu comecei a me perguntar se estou sentindo tudo de novo, se estou vivendo uma reprise daqueles dias cinzentos. Sei lá, isso mexeu comigo. Esse clima de tensão me fez querer chorar, me fez querer ficar na cama, me fez desanimar. 

Tenho medo de como as coisas estão e de como podem piorar. Vejo o futuro como um nevoeiro do Stephen King. Tudo é confuso. Uma porção de hipóteses. De dentro do meu quarto, cercada pelas paredes que sempre me acolheram, só posso dizer que estou cansada dos números, das notícias ruins, do sentimento de solidão, da sensação de impotência, do mesmo desejo impossível de estar com alguém que segure minha mão em tempos difíceis. 

Sim, não me sinto bem esses dias. Mas sei que vai passar.

2 comentários:

  1. Oi, Larissa.
    Eu também tenho a impressão de estar vivendo uma reprise desse mesmo episódio na minha vida... eu passei tantos anos lutando contra essa doença, a última coisa que quero é passar por isso de novo, mas está difícil resistir. Apesar de ter me isolado das notícias (os números...), acho que até o momento que estava "presa" nisso, me afetou.
    Enfim, estou tentando levar tudo da forma mais leve, ontem fiz uma meditação guiada e me ajudou, pois estou conseguindo respirar de novo.
    E é o que a gente espera, né: que tudo passe, pois tudo passa! Precisamos ser fortes agora.
    Beijos e melhoras!

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    1. Oi, Jana!
      No início eu estava bem - comparando com a quantidade de tempo que já passei isolada, ficar duas semanas em casa era um esforço simples. Mas cada dia começou a ser uma raiva e uma preocupação diferente, principalmente com as idiotices do presidente. Fiquei mexida com tantas notícias ruins, com a ameaça de demissões em massa, de me sentir sozinha e sem ninguém pra conversar sobre essas coisas.
      Eu sei que sou forte (aliás, somos muito fortes!), sei que consigo manter o equilíbrio pra passar por esses dias de caos, mas às vezes a gente cansa de estar bem o tempo todo. Vou tentar me ocupar de outras coisas, dar um tempo das redes sociais, experimentar a meditação guiada, como você sugeriu. Espero muito que tudo isso passe e a vida volte a ser o mais normal possível.

      Beijos e se cuida também :)

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Oi, tudo bem? :)