13.8.20

Silêncios necessários

Entre as paredes de casa, com um quintal cheio de plantas da minha mãe, com uns passarinhos que todo dia aparecem para comer xerém, com flores de buganvília brotando e suculentas crescendo aos montes, precisei reinventar meu tempo. 

Eu seguia numa vida dependente de mensagens no Whatsapp e gastava tempo demais entre curtidas e stories. Quando um dia abri por acaso minha atividade no Instagram, fiquei assustada com a quantidade de horas que eu passava ali. Era início da tarde e eu tinha perdido 3h47 minutos do meu dia visualizando bobagens.

(Dava para ler um livro curto, para fazer uma viagem de carro entre Aracaju e Maceió, para assistir Lawrence da Arábia, para fazer uma prova de concurso público, para descolorir o cabelo e pintar as luzes, para assar uns cinco bolos, para correr uma maratona).

Aquilo ficou martelando na minha cabeça. Eu estava num nível de ansiedade alto. Pensava demais em comida e comia muita porcaria. Tinha pouca concentração para a leitura. Não conseguia terminar um filme sem me distrair abrindo o Instagram. Ficava checando se tinha recebido alguma mensagem.

Para completar, a decepção que eu tinha sofrido foi um fator decisivo para que eu desse um tempo das redes e começasse a gastar minha energia em outras coisas.

Avisei a umas poucas pessoas sobre o meu afastamento, desativei algumas notificações e então sumi. Longas semanas offline e respondendo somente as mensagens necessárias que foram chegando.

Nesse tempo baixei um aplicativo de idiomas e comecei a estudar francês, mergulhei nas leituras pendentes, vi filmes que estavam esquecidos na minha lista da Netflix, reduzi meu consumo de informações (principalmente sobre política), tive duas tentativas fracassadas de fazer levain, me distraí brincando de arquiteta no The Sims, escrevi com frequência num diário, li matérias sobre autocuidado e saúde mental, curti dias de ócio, diminuí o açúcar, mudei a decoração do quarto, cozinhei bastante.

Parece pouco, mas foi o suficiente para melhorar meu humor, para me sentir menos ansiosa e ociosa, para ter a certeza de que finalmente estava aproveitando esse tempo em casa com algo útil, em vez de só ficar abrindo e fechando aplicativos. Meu medo agora é me acostumar com essa liberdade de uma vida menos conectada.

5 comentários:

  1. Atualmente eu assumo com 0 peso na consciência que ODEIO o WhatsApp, tanto pelos motivos que você citou, quanto pela falsa sensação de disponibilidade que ele dá aos outros (como assim você não me respondeu? por que não responde? o que é mais importante que isso?). Junte-se ao meu movimento, hahaha

    Limonada

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  2. Olá Larissa,

    Compreendo exatamente a sua sensação. É uma liberdade indescritível. Me libertei das redes sociais já faz um tempo. Agora estou retornando para o blog pela necessidade de escrever e também o prazer que isso gera.

    Me identifico com seu blog, uma escrita mais pessoal, relatos cotidianos. É gostoso de ler.

    Abraços!

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  3. não acho pouco não. é um bocado de coisas que te reconectam com teu tempo né? e me deu saudade de brincar de arquiteta no the sims haha :)

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  4. oi, lari!
    na metade da quarentena eu desativei o instagram por duas semanas. nesse período eu também escrevi muito no meu diário e acredito que seja porque não tinha mais os stories pra compartilhar foto de trecho de livro ou cena de filme. eu passei a guardar tudo no diário: trechos, sensações, frases, diálogos.
    é doido porque depois que voltei não deu nem uma semana e já tinha voltado tudo como era antes. é muito difícil fazer um detox que seja mai efetivo :/ de qualquer forma, hoje sei que quando a ansiedade bater e eu me sentir encurralada por essa rede social, vou poder desativar e sumir um pouquinho de novo. e assim a gente caminha...

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  5. Eu tava por esse caminho, mas há tempos atrás. Eu larguei do Facebook, Instagram apesar de ter nunca gostei de usar, e fiquei mais produtivo, mas veio a pandemia e continuei longe das redes sociais e ocioso. Bom dividir esses momentos e saber que isso atinge muitas pessoas e não apenas vc, e que se pode fazer muito, com tão pouco.

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Oi, tudo bem? :)