Dois anos se passaram desde a última vez que escrevi.
Acabei entrando num hiato cansativo que me tirou a vontade de escrever. Fui adotada por um gato bravinho que ama deixar marcas nas minhas pernas. Meu avô quase morreu duas vezes, ficou com a saúde debilitada e, desde então, tenho a sensação de que seu tempo está acabando. Minha avó avançou outro estágio no Alzheimer e se tornou ainda mais esquecida. Meu irmão mudou de cidade. Vivi dias chorosos e solitários. Me decepcionei e me frustrei bastante. Conheci e desconheci pessoas. Lidei com situações estressantes. Experimentei um trabalho que me acendeu o alerta de que a pandemia havia me causado mais estragos do que eu esperava.
Por várias vezes senti um cansaço com tudo, um desgaste emocional imenso, uma falta de paciência, uma hostilidade digna de pinscher, uma vontade de não fazer nada, como se eu estivesse amarrada ou carregando um peso, e ao mesmo tempo me angustiava com uma necessidade desesperada de mudar os rumos da minha vida.
Trabalhar com algo que eu gostasse, em vez de me desperdiçar com empregos ruins. Cortar laços falidos. Movimentar o corpo travado. Quebrar meus bloqueios e voltar a escrever com frequência. Resgatar meu lado criativo. Me apaixonar por algo. Me apaixonar por alguém.
Há pouco tempo me peguei com um aperto no coração ao ver tanta gente querida sendo, enfim, feliz no amor. Me perguntei se eu também teria essa sorte algum dia. Se meu destino seria continuar sozinha ou apenas cruzar de tempos em tempos com pessoas que acabavam me machucando de alguma forma.
Talvez seja uma coisa de idade. Talvez seja uma necessidade pós-pandemia. Não sei. Às vezes sinto falta de sentir a animação de uma paixão correspondida – dessas que colocam um sorriso bobo no rosto, um brilho diferente nos olhos e um suspiro no peito. Sinto falta de me sentir viva nessa parte do coração. De tê-lo outra vez batendo acelerado, cheio de desejo por alguém.
Por mais que eu goste da minha companhia, da minha introversão, dos meus momentos, não dá para negar que a vida é silenciosa demais sem uma paixão.