8.10.10

Disfarces e filmes errados

Depois que assisti A Verdade Nua e Crua, tentei colocar em prática todas as dicas bobas que havia visto. Conheci um cara meio ao acaso, declamei as falas e ri como uma menina vazia. Alguns dias assim, e eu cansei.

Rasguei o disfarce e mostrei a garota inteligente que passou a infância escrevendo roteiros e peças de teatro. A garota que lia demais e a mesma que passava os finais de semana em casa. A que abdicou de uma adolescência normal porque se sentia na responsabilidade de ajudar a criar a irmã mais nova. A que não vai em festas, não perde noite, não fuma, nem bebe. A garota ousada que finge pensar em sexo como algo qualquer, mas que no fundo é uma das coisas mais bonitas e sagradas em que acredita. A que quase nunca recebe amigos em casa, que mal recebe telefonemas, que briga com o espelho apesar de dedicar tanto tempo a observá-lo. A mesma que se interessou por uma fita cassete do Raul Seixas e chorou quando descobriu que ele não era mais vivo. A garota que gostava de Bob Dylan, mas acreditava que ele estava morto. A que coleciona canetas coloridas e papéis de rascunho. A que é alérgica a bichos de pelúcia, romântica não assumida, viciada em doces. A garota que não é boa em matemática, chutou a prova de física no vestibular e que se interessa pelas pessoas erradas, sempre problemáticas e conturbadas. A que sofre com suas crises, que não gosta de fazer planos e faz besteiras por ser impulsiva. A que joga The Sims pelo simples desejo de ser feliz com alguém e que opta pelo silêncio como forma de não se envolver. A mesma garota que se veste em segurança, para esconder a dor de um ego frágil e ferido. A que suspira com as melodias do Stereophonics e tem pilhas de discos não conhecidos pela maioria. A que não diz suas distrações, que não fala que gosta de cinema, que come um prato de brigadeiro de uma vez só, que gosta de noites estreladas e sonha dançar com alguém. E a mesma garota que é fácil de gostar e querer perto, quando assume suas fraquezas e se mostra por completo.

Depois que esqueci essas baboseiras do cinema e esses conceitos de mulher-objeto, a relação com o tal cara mudou. Mas, ironicamente, ele se apaixonou quando eu já estava de partida. E indo ao encontro de alguém que percebeu, antes mesmo de qualquer palavra dita, a tentação escondida sob tantos disfarces.

2 comentários:

  1. Se esconder através de disfarces,máscaras ou 'armaduras' se tornou normal,é algo que faço também,mas que me arrependo em alguns casos...

    Beijos

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  2. Esses amores pelo meio deixam pegadas. Doi quando o amor vem tarde demais, ah...quebrado estou, estamos?

    Charlie B.

    Ps. Vi esse filme, ri demais.

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Oi, tudo bem? :)